Elisabeth Moreno - Empresária, co-fundadora da ADWIN
Dulce Araújo - Vatican News
Mulheres da África e afrodescendentes de várias partes do mundo se reúnem nos dias 5 e 6 de Junho de 2025, em Congresso, no Sofitel Hotel Ivoire, em Abidjan, na Costa do Marfim, para o Congresso de lançamento do ADWIN, Movimento criado por três afrodescendentes (Elisabeth Moreno, George-Axelle Broussillon Matschinga e Prsicillia Avenel-Delpha) com o fito de fazer com que sejam ultrapassados os obstáculos que impedem ainda hoje a esse mundo feminino ter acesso adequado à saúde, à educação, ao capital e representatividade em cargos de liderança e oportunidades.
A Costa do Marfim foi escolhida para o lançamento do ADWIN por ser considerado um país modelo de promoção da mulher e por contarem com a parceria na coorganização do Congresso da Ministra Euphrasie Kouassi Yao, em nome do Compedium das Competências Femininas do país - explica Elisabeth Moreno.
Em entrevista à Rádio Vaticano, esta cabo-verdiana francesa detém-se sobre as razões que estão na base da criação deste movimento que quer ter um impacto concreto na vida das mulheres, sem excluir as parcerias masculinas, pois que, para se construir um mundo melhor - afirma - não se pode excluir nenhuma das duas metades da humanidade.
Com ampla experiência no mundo empresarial, politico e na defesa dos direitos femininos e humanos, Elisabeth Moreno, têm a consciência de que sem capital não se pode concretizar os projetos, por mais belos que sejam, mas não deixa para trás a ética, a justiça e a sustentabilidade e exprime apreço pela encíclica do Papa Francisco, Laudato Si, espelho da ligação entre todos os aspetos da vida humana e ambiental no Terra.
O rico perfil profissional de Elisabeth Moreno é traçado na crónica de Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) para a emissão semanal da Rádio Vaticano “África em Clave Cultural: personagens e eventos”, ao lado das palavras dela e de Lourdes Alves de Sousa, uma das sete componentes da delegação do Brasil ao Congresso de Abidjan. Psicóloga, Lourdes faz parte da Fundação Palas Athena, do Movimento Negro no Brasil. Embora no Brasil haja já diversos organismos que procuram defender os direitos das mulheres de origem africana, ela acha que através de ADWIN poderão estar numa rede mais ampla, o que facilitará também o seu contacto com a África.
Crónica
"Elisabeth Moreno, uma empresária bem-sucedida e uma ministra “inclusiva”
Elisabeth Moreno é uma gestora e empresária francesa, de origem cabo-verdiana, bem-sucedida e que foi uma ministra do Governo francês que se notabilizou na luta pela igualdade racial, pela integração das comunidades imigradas e pelos direitos das mulheres.
Elisabeth Moreno nasceu a 20 de setembro de 1970, no Tarrafal, a norte da ilha de Santiago, em Cabo Verde. Ela é a mais velha dos seis filhos. Moreno mudou-se com a família para a França com sua família em 1977. A família estabeleceu-se num conjunto habitacional em Athis-Mons, perto de uma estrutura hospitalar que pudesse acomodar uma de suas irmãs, que havia sofrido um acidente doméstico. Imigrantes em França, o pai trabalhava na construção civil e a mãe como mulher de limpeza.
Como criança imigrante, aprendeu francês na escola. Foi-lhe oferecida uma qualificação profissional, mas, boa aluna, optou por prosseguir os estudos e licenciar-se em Letras e, mais tarde, em Direito. Após concluir o Mestrado, com especialidade em Direito Empresarial, na Universidade Paris XII, entrou no mercado de trabalho, começando a vida profissional num escritório de advogados.
Em 1991, fundou com o marido uma empresa de construção civil. Em 1998, ela entrou para a France Télécom, como chefe de vendas para a região de Paris Sul.
Em 2002, foi recrutada pela Dell, como gerente de contas principais. Após um período na divisão marroquina do grupo, foi promovida a diretora de vendas para Europa, Oriente Médio e África.
Em 2006, aos 35 anos, teve a oportunidade de retomar temporariamente os estudos, para um MBA Executivo, na Escola Superior das Ciências Económicas e Comerciais e na Universidade de Mannheim, na Alemanha.
Foi uma das cofundadoras do Clube Empresarial de Cabo Verde, em 2005, e da Casa Cabo Verde, de 2008 a 2011, com ações dirigidas à diáspora cabo-verdiana na França.
Em 2012, ela foi recrutada pela LENOVO, como Diretora de Vendas Europeia. Nesse meio tempo, tornou-se também juíza consular voluntária no Tribunal Comercial de Bobigny, em 2015, após formação na Escola Nacional de Magistratura.
Dois anos depois, em 2017, tornou-se presidente e CEO do grupo LENOVO para a França. Em 2019, a multinacional americana Hewlett-Packard, recruta-a como presidente do grupo para o continente africano, passando a residir na África do Sul.
Embora não tivesse feito carreira na política, estando ligada aos assuntos da comunidade cabo-verdiana e ao mundo empresarial, mais orientada para as novas tecnologias, o nome de Elisabeth Moreno foi sugerido ao Presidente francês como alguém que poderia fazer parte do executivo.
Acabou por aceitar o cargo de Ministra da Igualdade entre Mulheres e Homens, Diversidade e Igualdade de Oportunidades, destacando-se na luta contra o racismo e a discriminação em França, assim como na proteção das vítimas de violência doméstica.
Permaneceu dois anos no executivo de Emmanuel Macron, tendo depois sido candidata a deputada em representação dos franceses na África Ocidental e do Norte, mas acabou por não ser eleita para o Parlamento francês.
Regressando à vida empresarial, Elisabeth Moreno passou a gerir um fundo de investimento e a fazer parte do Conselho de Diversidade da multinacional francesa SANOFI, o terceiro no ranking mundial em termos de volumes de negócios farmacêuticos, de 2023 a 2025.
Elisabeth Moreno foi outorgada Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra em França e Comendadora da Ordem Nacional do Leão do Senegal, no Senegal. Em Cabo Verde, acaba de ser homenageada como uma das personalidades que contribuiu para o sucesso do País nos seus 50 Anos de Soberania, no âmbito do 1º Fórum Internacional Mulher e os Desafios do Desenvolvimento, com o lema “MAIS Participação, MELHOR Futuro”.
Filinto Elísio, poeta, ensaísta, editor.
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